Envelhecer é solitário... que desperdício!

"Envelhecer é solitário... que desperdício!

Um currículo repleto de cursos é a porta de entrada para empresas, instituições, sonhos e tudo que o coração desejar, quanto maior a carga horária, mais apto o aluno estará para exercer a função pretendida.

Um curso de 190 horas é um curso profissionalizante com uma carga horária significativa, e se esse curso oferecer leituras complementares, estágio, exercícios práticos e avaliação permanente, com certeza os alunos serão fortes candidatos para entrar para o mercado de trabalho e a “Vida adulta”.

Então... vamos olhar com carinho, essa hipocrisia que já está normalizada.

Um velho ou velha – não gosto da palavra idoso, acho que foi criada para não ofender àqueles que acreditam que envelhecer é vergonhoso, quase uma ofensa à juventude cheia de sonhos e hormônios enlouquecidos.

Idoso, assim como terceira idade ou melhor idade é bobagem, a Mitologia e a Religião nunca falaram sobre a “bruxa da melhor idade”, para se referir às mulheres que conheciam os segredos da natureza, das ervas e benzimentos, era a “velha bruxa”; nunca li sobre o “idoso sábio da terceira idade”, mas o “velho sábio” aquele que é depositário de sabedoria e segredos do mundo; é aquele que busca a Verdade, movido pela busca incessante pelo conhecimento e pela sabedoria, almejando desvendar os mistérios do mundo – então vamos falar sobre VELHAS E VELHOS.

Voltando ao currículo, cursos e saberes, vamos imaginar uma velha de 70 anos, calculando que metade do tempo, ou seja, 35 anos ela passou dormindo (isso seria ideal, mas a gente sabe dormir 12 horas por dia é luxo para poucos) então essa pessoa fez um curso na vida de 306.600 horas, na Escola da Vida, que também inclui todas as outras escolas.

No ensino fundamental da Escola da Vida ela aprendeu que chorar quando sentia fome, seria suficiente para o leite chegar pronto para ser consumido; aprendeu a dormir e se acordasse chorar seria o chamado para colinho, ou curar qualquer desconforto. Isso seria mais ou menos as primeiras lições de “comunicação não verbal”.

Depois a vida começou a exigir mais... andar sem apoio, segurar a colher e levar à boca sem derramar a comida, falar, reconhecer as pessoas que a cercavam e “eleger” aquelas que seriam “de confiança” e aquelas que deveria se proteger.

Aí a Escola da Vida começou a complicar, porque novos cenários, novos personagens e desafios como andar de bicicleta, cortar o bife, limpar a bunda, escrever, ler, conviver com pessoas não eleitas e muitas não confiáveis, mas era preciso aprender a disfarçar e continuar.

Depois essa Escola começa a exigir que você faça escolhas, algumas serão desastrosas e você aprenderá que arrependimento não é condição para voltar atrás e apagar o que foi feito.

Então a Escola começa a testar tudo que foi aprendido, pois você em algum momento será o professor de um novo aluno, e essa tarefa é quase insuportável, em alguns momentos.

E depois de terminar o curso de 306.600 horas, você pega os seus diplomas, certificados, saberes, lições, toda expertise adquirida e coloca naquela gaveta cheia de fotos e lembranças.

Você é velho e não serve para mais nada.

Envelhecer é solitário... que desperdício!

A tribo dos humanos modernos, ainda não se deu conta de que nossos ancestrais aprendiam com os anciãos, quem aconselha, ensina e conhece os ritos de cura para o corpo e a Alma nas tribos são os velhos, aqueles que viram tanta coisa, sentiram tanto e agora estão aptos a distribuir tudo isso, para aqueles que estão se matriculando na Escola da Vida.

Uma sociedade que isola e discrimina a velhice, não pode dar certo, aliás, todos os dias nós temos exemplos disso.

Uma multidão de velhos que não tem com quem compartilhar, tudo que aprendeu na Escola da Vida, começa a acreditar que não tem nada a compartilhar, e se ele não tem nada a compartilhar, aos poucos ele começa a acreditar que “É NADA”.

Isso não seria tão preocupante, se a população de velhos no Brasil não fosse mais de 35 milhões de pessoas; e a população idosa deve atingir 2 bilhões de pessoas, constituindo cerca de 20% da população mundial.

Então... 20% da população mundial formou-se na Escola da Vida e tudo que foi aprendido, não serve para nada.

Que desperdício!"

Míriam Morata, uma velha de 66 anos